quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Entendendo os drives de proteção

Posso eu mesmo treinar meu cão para o trabalho de mordida?

Entendendo os drives de proteção

Escrito por Ed Frawley

O trabalho de proteção (quando feito corretamente) é o mais exigente e complexo treinamento canino que existe. Muitos cães podem aprender obediência, faro ou agility, mas poucos podem lidar com proteção.
Eu muitas vezes ouço as pessoas dizerem “meu cão não foi treinado para proteção, mas tenho certeza de que se for necessário ele irá me proteger”. Em 99% dos casos isso não será verdade. Na verdade, a maioria dos cães, ao ser ameaçado demonstrará o desejo de fugir, deixando seu condutor a ver navios.
A razão para isso está no temperamento canino. Na sua essência o treino de mordida está diretamente baseado na habilidade do cão de lidar com stress. Um bom cão de proteção é ensinado desde filhote a agir da forma correta quando ameaçado. Ele é ensinado que evitar e correr não resolve seu problema.
Para ter sucesso nesse treinamento os condutores devem ter um bom conhecimento dos drives que governam o temperamento canino no trabalho de proteção.
Estes são:
1. Drive de caça
2. Drive de defesa
3. Drive de luta
4. Fuga
Se seu objetivo é aprender como treinar um cão no trabalho de proteção, seu trabalho começa em compreender esses drives, bem como eles se relacionam um com o outro. Se um adestrador não tiver um completo entendimento sobre o desenvolvimento dos drives ele nem deve começar a trabalhar com isso, pois nunca conseguirá nenhum resultado com o trabalho de proteção.
Se você está começando agora, ouça o que eu tenho a dizer sobre drives e então assista meu vídeo sobre esse assunto (The First Steps of Bite Work - Video 101-B) ou procure um adestrador experiente e aprenda com ele.
Sempre que assistir a um trabalho de mordida você deve pensar consigo mesmo: “Que drive este cão está usando e porque?”
Quando observar um figurante experiente trabalhando com um cão você também deve pensar: “Que drive o figurante está estimulando nesse cão?”. Quando ele alternar entre seus drives você deve tentar reconhecer isso e entender o porquê.
Na minha fita eu defino e demonstros os drives mostrando a vocês cães que tem um bom drive e alguns que não os tem. Eu desejo que os espectadores saibam reconhecer um cão com potencial para trabalho. E ainda mais importante, desejo que eles possam identificar quando um cão não tem capacidade para o trabalho e não pode ser treinado para proteção.
Logo de início todos precisam entender que os drives para o trabalho de proteção são herdados. É um fator genético e não racial ou de adestramento. Em outras palavras, se o cão não tiver uma boa genética para trabalho de proteção você não conseguirá enfiar os drives nele. Só porque um cão é um Pastor Alemão isso não significa que ele pode ser treinado no trabalho de mordida. Seria a mesma coisa que dizer que porquê eu tenho um cavalo eu posso pensar em participar de um rodeio.
A primeira parte do vídeo lida na definição dos drives utilizados pelo cão no trabalho de proteção. Nós então entramos no passo-a-passo para treinamento do cão, do condutor e do figurante. Para ser eficiente no trabalho de proteção o condutor e o figurante devem trabalhar como um time.
Drive de Caça:
O drive de caça é o mais simples de ver e compreender no nossos cães. Ele pode ser reconhecido em um filhote tão jovem quanto com 6 semanas de idade. O drive de caça é o desejo de perseguir um objeto em movimento, pegá-lo e sacudi-lo uma vez abocanhado. Filhotes demonstram seu drive de caça quando perseguem uma bola ou brincam de cabo-de-guerra com as pernas de sua calça. Cães de caça que buscam e trazem um brinquedo também estão demonstrando o drive de caça.
Quando você observa um cão perseguindo um coelho, um gato ou um frisbee você está tendo uma demonstração do drive de caça. No Schutzhund ou no trabalho de proteção, quando o cão agarra a manga enquanto o figurante se agita ele está usando seu drive de caça.
Enquanto o cão estiver sendo trabalhado na caça ele não se sentirá ameaçado. O trabalho na caça é muito confortável para o cão. O cão vê a caça como um grande jogo de cabo-de-guerra. Eles não se estressam em fazer isso.
Pense num labrador perseguindo uma bola – ele não se sente ameaçado em fazê-lo. Quando um cão está mordendo 100% baseado em caça ele também não se sente ameaçado. A postura corporal de um cão com o drive de caça em uso é alerta, com a cauda erguida ou abanando (esse é provavelmente o sinal mais evidente para os adestradores inexperientes), o pêlo não está eriçado nas costas no cão durante a mordida e ele não costuma rosnar ou mostrar os dentes. O latido de caça também é mais agudo e insistente, além de não soar nervoso ou estressado.
Durante o trabalho de mordida o drive de caça é usado de duas formas:
Nós usamos o drive de caça para ensinar o cão o mecanismo de morder e lutar. Em outras palavras, fazemos um trabalho de caça desde cedo para ensinar o cão a identificar um pano, lingüiça de treino ou manga como um objeto-caça. O cão aprender que quando ele ver seu dono ou o figurante com um pano ou uma manga ele irá brincar de cabo-de-guerra e que aquilo é o que ele deve morder. Ensinamos o cão a latir quando for morder e ensinamos que ele deve segurar fortemente sua caça, sob pena de perdê-la. Ele também aprende que uma vez que a manga é solta pelo figurante o cão deve carregá-la e segurar como uma caça. Falamos de todas as razões sobre isso no passo-a-passo na fita.
Ainda mais importante, em cães maduros, nós usamos um nível de conforto em um cão calmo se instigamos sua caça, aliviando o stress causado por uma utilização intensiva de seu drive de defesa. Discutiremos mais tarde esse último.
No nosso treinamento utilizamos o drive de caça para criar uma zona de conforto para o cão. É uma forma de conseguir acalmar e desestressar o animal sem ter que parar o trabalho. Quando ensinamos o cão a entrar no seu drive de caça quando desejamos isso, ele aprende a relaxar após um treino estressante.
Uma coisa importante a ser lembrada é que o drive de caça diminui ou se extingue uma vez que o cão se cansa. Em outras palavras, um cão cansado não tem o menor interesse por cabo-de-guerra. Isso virá a tona durante nosso treinamento. Existe uma dificuldade dos novos adestradores perceberem que a medida que um treino progride o cão ganha experiência e o trabalho em cima da caça irá mudar.
Quando uma pessoa leiga vê um cão sendo treinado na caça ele pode pensar que o cão está realmente querendo matar o figurante, quando na verdade o cão está apenas brincando de um cabo-de-guerra mais bruto.
Antes de irmos em frente, vamos olhar mais alguns estágios do drive de caça.
Cada cão que observarmos estará agindo ligeiramente diferente, mas todos na caça. Se você é novato no treino de mordida pode parecer bastante complicado, mas esperamos esclarecer a confusão no decorrer da fita.
Nos canis da polícia os figurantes fazem escapadas e os cães os perseguem, utilizando toda sua caça.
O Schutzhund está atualmente tendo uma série de mudanças de regras sobre o teste de coragem – mas o antigo teste de coragem começava com o figurante fugindo do cão – quando o cão persegue o figurante ele está usando a caça.
Enquanto todos eles estão utilizando sua caça, o nível da mesma, sua intensidade e a forma como ela interage com os outros drives resultam em diferentes formas.
Drive de Defesa:
Para um cão fazer trabalho policial, proteção pessoal séria ou um bom trabalho de schutzhund, ele deve ter drive de defesa.
O drive de defesa é o que faz com que o cão proteja a si mesmo de uma potencial ameaça. Um cão jovem trabalhando no drive de defesa nunca estará num situação confortável. Como resultado de imaginar estar sendo ameaçado ou atacado ele irá se estressar. Para nosso treino desejamos que o cão, apesar de inseguro sobre sua situação, se sinta apenas um pouco ameaçado ou agredido.
Esse desejo de defender a si mesmo também é genético e não existe forma de treinar o cão para isso, não importa o quanto você se esforce. Se ele não herdou os genes para isso de forma alguma será um cão de proteção.
Alguns exemplos para isso são os labradores, goldes, huskies e outras raças assemelhadas. Esses cães simplesmente não carregam os genes para o trabalho de proteção. O melhor a se esperar deles é que latam para um estranho, dando o alarme. Mas quando ameaçados esses cães irão se esquivar e fugir. E apesar desse drive ser genético ele não irá aparecer até a puberdade do cão. Em alguns cães isso pode ser com um anos de idade – a defesa não se desenvolve totalmente até que o cão atinja a maturidade mental – e isso pode ser até depois dos três anos, dependendo da linha de sangue.
O quadro que observamos de um cão não adestrado em defesa é totalmente diferente do que está em caça. Inicialmente ela demonstra insegurança. Os latidos são mais profundos e sérios. Os pêlos estão eriçados nas costas e ele estará mostrando todos os seus dentes e rosnando.
O eriçamento dos pêlos é uma reação natural que faz o animal parecer maior e mais ameaçador. É uma reação comum no mundo animal, como em porcos-espinhos e alguns lagartos. A intenção é assustar a ameça. O latido de defesa é grutal e profundo. Uma vez que você o percebe é possível definir a diferença entre ele e o de caça. Em defesa a cauda também estará diferente, não balançando tanto e em uma posição muito mais abaixo. Da mesma forma, a modida de defesa não é a mesma da caça. Ela é feita com a parte da frente da boca. Freqüentemente os cães dão uma mordida cheia quando na caça, mas apenas com a frente da boca na defesa. Quando ouvir um adestrador dizer que a mordida na defesa enfraquece, entenda que ele quis dizer que ela está sendo feita apenas com os caninos e por vezes mastigando a manga.
Adestradores novatos devem pensar na cauda e na mordida como um termômetro do temperamento. Quando o cão está numa situação confortável com a situação a cauda balança mais e fica mais erguida. A medida que a pressão aumenta ela começará a se agitar menos e ficar mais baixa, assim como a mordida ficará mais fraca. Se a pressão continuar a aumentar o cão se aproximará do desejo de fuga e seu rabo estará entre as patas.
A melhor hora para começar a fazer o trabalho de proteção é depois que o cão tiver atingido sua maturidade mental e após um treino básico em cima de seu drive de caça. O drive de defesa começa a se mostrar aos 4 ou 5 meses de idade na forma de latidos frente a novas situações. Ele não estará completamente desenvolvido até os 18 a 24 meses, podendo levar até 3 anos em alguns cães.
Um figurante muito experiente pode começar a introduzir a defesa no cão quando ele atingir a puberdade. Isso costuma acontecer entre 11 e 14 meses. Figurantes novatos que tentam essa introdução antes da maturidade mental do cão estão fazendo a pior besteira de sua carreira. Obrigar o cão a trabalhar a defesa antes de estar completamente maduro é a forma mais fácil de arruinar seu futuro em proteção.
Se você tem que levar alguma lição do vídeo, tenha certeza de que será: SEJA MUITO, MUITO, CUIDADOSO AO TRABALHAR A DEFESA DE CÃES JOVENS.
Alguns cães tem ótimos drives de caça, mas lhes falta defesa. Um ótimo exemplo é o labrador, que ama perseguir bolinhas, mas nunca poderia ser treinado para proteção, por falta de defesa.
Ao contrário do drive de caça, o de defesa não diminui ao passo que o cão se cansa. Uma outra forma de encarar isso é que não importa o quanto ele se sinta cansado, ainda assim irá reagir a uma potencial ameaça.
Trabalhar no drive de defesa requer um figurante muito capaz e apto a ler e entender o temperamento de forma a saber exatamente o quanto mais de pressão pode ser colocado sobre o cão antes do mesmo passar à fuga.
Drive de Luta:
Na medida em que o treinamento vai avançando, a perspectiva do cão sobre o figurante irá mudar. No começo do treino o figurante é um amigo que quer brincar de cabo-de-guerra ou uma pessoa que sempre quer roubar a caça. Mas quando entra o estágio da defesa o cão começa a ver o sujeito como alguém que sempre quer atormentar sua vida. O figurante passa a ser visto como uma ameaça da qual ele irá sempre desconfiar.
Mas conforme o trabalho de defesa avança, a confiança do cão também cresce (se ele for geneticamente capaz disso). Ele é ensinado como vencer o figurante em todas as circunstâncias. Isso irá lentamente mudando a visão do cão sobre o figurante. Ele começa a ver o figurante como um parceiro de lutas. Alguém com quem deve ficar bravo e não nervoso. Quando essa fase começa, dizemos que o cão está desenvolvendo seu drive de luta.
Definimos o drive de luta como uma interação dos drives de caça e defesa, onde o cão luta com a vontade da caça e com a intensidade da defesa. A imagem de um cão com uma boa luta é um cão com uma grande auto-confiança em qualquer ambiente e em qualquer circunstância. É um cão que não age ou aparenta com insegurança durante o trabalho de proteção. O nível e intensidade do seu trabalho de mordida é muito alto – o cão mostrará uma tenacidade na luta não vista em cães jovens e imaturos.
A única forma de um cão desenvolver sua luta é com experiência e treinamento. Eles não vão simplesmente acordar na manhã de seu aniversário de 3 anos e possuir o drive de luta. O cão precisa passar por uma ótima base em treino de caça e, no momento correto, ser introduzido no treino de defesa. É importante ressaltar que somente cães com boa genética e o treinamento correto irão desenvolver o drive de luta.
É interessante o fato de que cães com um forte drive de caça desenvolvem o melhor drive de luta. Cães dominantes também tendem a desenvolver bem a luta.
Se você já ouviu alguém dizer que o drive de luta era defesa, isso não está exatamente correto. A diferença entre esses dois drives é a maneira como o cão vê o figurante e o nível de conforto que ele está durante o trabalho.
Lembre-se dessa comparação: O cão com luta vê o figurante como um colega de luta. Quando ele vê o figurante ele fica bravo, quer partir para a luta com ele. Adestradores pouco experientes podem ter dificuldades para distinguir o latido de defesa com o de luta. Não se preocupe, pois isso é normal. Todos os novatos passam por isso. Eu mesmo levei um bom tempo para entender. Conforme for ganhando mais experiência, mais suas habilidades para reconhecer esses drives aumentará.
Fuga:
Fuga é mais comumente usado no treino de obediência. É um drive que não desejamos que apareça num treino de proteção.
Quando o nível de stress fica muito alto para os nervos daquele cão em particular ele irá fugir. Algumas pessoas chamam fuga de drive, mas eu prefiro ver a fuga como uma forma de defesa. O extremo da defesa. Afinal, existe alguma defesa melhor do que uma retirada estratégica?
Uma vez que o cão foge, ele aprende instantaneamente que essa é uma forma fácil de lidar com a pressão. Podemos levar meses para trazer um cão de volta ao estágio onde estava antes de ser “quebrado” e fugir.
Quando falamos de fuga também estamos falando em ser hesitante. Existe uma diferença. Ser hesitante é quando o cão dá um passo atrás para avaliar o que está acontecendo quando ele está estressado. Isso normalmente acontece com cães jovens que foram expostos a um nível um pouco maior de stress. Ser hesitante não é ruim, na verdade é até bom. Quando um cão aprende a lidar com a hesitação e a lidar com novas situações ele ficará mais forte e confiante.
Um cão em fuga irá enfiar o rabo no meio das pernas, jogar as orelhas para trás, eriçar os pêlos e fugir. Um cão em dúvida não irá enfiar o rabo entre as pernas. Ele pode abaixar um pouco, mas só. Ele pode também parecer confuso, mas não amedrontado. Existe uma diferença aqui.
Os adestradores devem desenvolver a percepção quando o cão está querendo fugir ou apenas em hesitante. Em estágios avançados de treinamento iremos intencionalmente colocar o cão numa situação de dúvida de forma a ensiná-lo a enfrentá-la e aprender a lutar com isso.
Posso treinar meu próprio cão no trabalho de mordida?
Sou frequentemente indagado por novos adestradores se eles podem fazer treino de proteção com seus cães. E eu tenho uma pequena história para responder a essa pergunta.
Se você tem um filho e deseja que ele aprenda a lutar, você o coloca em aulas de karatê. Essas aulas são todas baseadas em drive de caça onde a criança aprende as técnicas de luta. Ele pode participar de um campeonato de karatê e dar uma surra no seu adversário ficando ainda no drive de caça – é apenas um jogo.
Você pode ajudar seu filho sendo seu treinador e orientador na luta. O mesmo vale para o seu cão – você pode ajudá-lo com o treinamento básico de caça.
Se seu filho algum dia se envolver em uma briga onde precise lutar por sua vida, ele estará trabalhando no drive de defesa. Ao passo que o condutor ou proprietário pode treinar a caça com seu cão, ele nunca poderá treinar a defesa, por isso faria com que seu cão passasse a duvidar dele e pensar que ele deseja matá-lo. Assim como você nunca colocaria seu filho em uma posição que ele pense que você o deseja mal, assim deve ser com seu cão.
O condutor pode treinar seu cão enquanto estiverem trabalhando na caça para que ele possa aprender todas as habilidades necessárias para passar para o próximo estágio. Na verdade se um vizinho algum dia ver um cão mordendo a manga no seu próprio dono, apesar de estar na caça, ele pode achar que seu cão ataca até o próprio dono, enquanto ele está apenas brincando de uma nova versão de cabo-de-guerra.
Quando quiser começar a trabalhar a defesa, ele deverá procurar algum figurante experiente para ajudá-lo nisso. Não existe outra forma de fazê-lo. Iremos no nosso vídeo mostrar como treinar uma defesa bem limitada sem a presença de um figurante experiente, mas a verdade é que não se pode fazer muito sem ajuda de alguém experiente. O que eu posso dizer é: para trabalho de proteção pessoal, se todo o trabalho de embasamento for feito corretamente, a ajuda adicional necessária será bem menor.
Traduzido / Adaptado por Eri Ramos Bastos

A cópia total ou parcial deste artigo só deve ser realizada com a permissão de seu autor, informando a fonte e nome do autor.

Published on Agosto 5, 2005

Marco Antonio Fernandes
Titular do Canil Carebru


Texto retirado do site http://www.apro.com.br/ 

terça-feira, 18 de outubro de 2016

A Teoria por trás dos Drives comportamentais

Visando trazer um pouco mais de conhecimento técnico para nossos leitores e assim conseguirmos ter animais melhor preparados e cada vez mais competitivos para nosso esporte, trazemos esse artigo que fala a cerca do comportamento canino. Gostaria muito que caso venha a surgir duvidas, que elas sejam postadas aqui e assim possamos crescer juntos em conhecimento com os debates. Boa leitura.
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Entendendo o Porquê do Comportamento Canino



Quando você faz um bolo, pode começar com apenas alguns ingredientes básicos. O bolo que vai resultar disso depende de como você vai usar cada um deles e sua propriedades inerentes. Nesse sentido, drives comportamentais são bastante semelhantes. Usar esses elementos básicos do comportamento parece óbvio e simples, mas, pela forma em que podem ser misturados e moldados, e de acordo com as prioridades, você pode encontrar uma diferença considerável nas atitudes e respostas dos cães a uma variedade de situações. Adicionalmente, esses drives podem ser influenciados ou alterados. Um cão que não possui um drive de brincadeiras particularmente forte, por exemplo, pode com certeza ser encorajado a ser mais brincalhão. Esse preâmbulo indica que, embora os ingredientes sejam simples, sua variedade torna a interpretação bastante complexa, e, digamos, interessante, na maior parte do tempo

Drives de Comportamento são essencialmente instintos que influenciam como o seu cão vai reagir a uma dada situação, ou estímulo. Estes são todos influenciados pela genética e pelo ambiente, a velha questão de natureza/ criação que muitos de nós já conhecemos. Para influenciar o comportamento, deve-se tentar manipular esses drives (dar ao cão um biscoito quando ele senta sob comando está usando o drive de comida, por exemplo). Esses elementos comuns a todos os cães (e a outras espécies, por sinal) são o que torna o comportamento animal uma ciência.

Entender como encorajar (ou desencorajar) certos comportamentos ou drives é a habilidade que todos os adestradores procuram.

O homem primitivo reconhecia certas habilidades nos cães que resultavam em velocidade, habilidade de rastreio, habilidade de caça, habilidade de guarda e outras ainda, que eles encorajavam através da reprodução seletiva e do treinamento. Todos esses atributos eram o resultado de uma combinação específica de drives comportamentais. Esses drives básicos, matilha, brincadeira, caça, comida e defesa, ainda determinam os elementos fundamentais das escolhas com que nos deparamos em nossos cães hoje.

Muitos livros e artigos comungam do entendimento de que cães são animais de matilha. Eles preferem um estilo de vida social, construído ao redor de outros, que nós humanos chamaríamos de família. Essa verdade nem sempre clareia o fato de que cães variam nos seus drives de matilha, ou que sua estrutura de matilha não é estática. Por exemplo, o trabalho desempenhado por Cães de Faro ou Terriers difere grandemente em seu senso de independência daquele de um Retriever ou Pastor. Geralmente, as raças (ou tipos) que foram desenvolvidos para trabalhar mais próximos aos humanos exibem maior comportamento de matilha, e assim, pelos padrões de muitas pessoas, recebem rótulos, como “maior desejo de agradar” ou até mesmo de mais inteligentes que cães mais independentes. Isso acaba sendo injusto, uma vez que, como no exemplo dos Cães de Faro, a diferença, muito provavelmente, não é de inteligência, mas da capacidade do “treinador” de motivar. Drive de matilha mais baixo ou maior independência significam que companhia e atenção não costumam estar bem cotadas como motivadores.

A maior parte das pessoas se surpreenderia ao saber que cães precisam aprender como brincar. De fato, de todos os drives listados, o drive de brincadeira para ser o que não é parte inerente do genótipo de todos os cães. Para lobos e outros canídeos selvagens, a brincadeira é o mecanismo educacional dos filhotes. Nos seus esforços de dar o bote, seguir, pular e lutar, eles estão desenvolvendo as habilidades necessárias à sobrevivência. Para cães domésticos, esses comportamentos não são tão cruciais, e como os filhotes são freqüentemente separados de sua ninhada e de sua mãe numa idade jovem demais para ter uma oportunidade de aprimorá-los, cabe à sua nova matilha ajudar a desenvolver isso, se é que o farão.

Um cão que possua um forte drive de caça freqüentemente reage a virtualmente qualquer coisa que se mova. Seja uma brincadeira de pega-pega, um cabo-de-guerra, ou caçar insetos, o drive encontra uma forma de se expressar. O drive de caça é o que faz um Cão Pastor trabalhar tão liricamente, e um Cão de Faro “cantar”, ele está por trás de muitos dos comportamentos que foram priorizados por muitas gerações. A visão do cão, ajustada para movimento a distâncias muito além de nossas capacidades, e seu senso de olfato, que está além da nossa compreensão, são a base do estímulo sensorial da maior parte dos comportamentos de caça. O Drive de Caça é um componente importante para muitos aspectos da personalidade de um cão, seu comportamento social, trabalho e brincadeira. Um forte drive de caça combinado com socialização e práticas de treinamento positivas geralmente resulta em alguns dos superstars do mundo canino, cuja capacidade e desejo de trabalhar parecem ilimitados

O drive de comida parece tão óbvio que praticamente não precisa de comentários. Ainda assim, dentro do mundo dos cães, há um abismo entre o cão que é fortemente motivado por comida, e aquele que não o é. É alguma coisa além de paradoxal que aquelas raças que nós consideramos terem baixo drive de comida também possuam baixo drive de caça e sejam tipicamente agrupadas como difíceis de treinar, ou até mesmo chamadas de menos inteligentes? Ou é mais provável que sua falta de drives nessas áreas para as quais a maior parte dos treinadores olha primeiro (elogios e comida) possa não ser extremamente motivante? Independentemente, usando comida ou não, todo o cão aprecia algum dos motivadores de que o adestrador possa se valer.
Cães primitivos (e homens primitivos também, nesse sentido) sabiam o valor de uma boa defesa. A sobrevivência poderia ser determinada pela resposta apropriada a uma situação de ameaça, como muitas que provavelmente ocorriam. O drive de defesa pode apresentar diversas manifestações. Muito da variabilidade pode ser baseada na confiança e ansiedade sentidas pelo animal.
Um animal com alta ansiedade e baixa confiança pode ganir e urinar submissivamente numa situação em que outro cão com um senso de confiança ligeiramente diferente, ou maior senso de ansiedade poderia escolher atacar. Para cães capazes de administrar seu drive de defesa e lidar com a ameaça de forma adequada, a socialização e as experiências variadas são cruciais. Um cão que teve a oportunidade de experimentar muitas coisas vai estar numa posição muito melhor para decidir quais delas representam ameaças, e quais são simplesmente novas.

Adicionalmente, os drives de defesa podem incluir comportamentos simples como evitar ou até mesmo se esconder (eles sabem que está na hora do banho…). Esse drive básico instintivo, de evitar e prevenir o desagradável, está baseado no instinto de sobrevivência. Assim, ajudar seu cão a aprender a aceitar a apreciar um ampla variedade de experiências pode assegurar que as respostas dele sejam adequadas. Geralmente se refere a respostas inadequadas nos casos de agressão por timidez, ansiedade ou medo, postura agressiva, entre outros.

          Embora você possa ter apreciado aprender sobre esses componentes básicos do comportamento canino, por favor não saia por aí tentando avaliar o seu cão, ou, ainda pior, não tente analisar cada cão que você pensar em adotar com relação aos méritos de seus drives! Fazer isso seria um grave desserviço para você e para o cão em questão. Por exemplo, se é um cão que você está considerando para adoção, é bem provável que outros componentes como confiança e dominância na situação de adoção teriam importância nos drives que você iria observar. No caso dos cães que já fazem parte da sua família, esses drives podem ter sido influenciados pelo ambiente que você oferece. Ao invés disso, ler isso coloca você em uma posição de ser capaz de entender melhor o seu cão, responder aos comportamentos que ele oferece e construir um maior e melhor nível de comunicação.
A cópia total ou parcial deste artigo só deve ser realizada com a permissão de seu autor, informando a fonte e nome do autor.

Extraído e livremente traduzido de: http://www.digitaldog.com/behaviorintro.html
Traduzido/Adaptado por: Débora Leão

Publicado em 22 de abril de 2006